segunda-feira, junho 05, 2006 

Shine on Roger


Na madrugada de sábado passei por uma experiência única, sublime. Aconteceu no Parque da Bela Vista em Lisboa, no Rock in Rio. Vi Roger Waters ao vivo!!!!!!
Desde os meus 14 anos que sou fã de Pink Floyd. Ainda me lembro da primeira vez que ouvi o álbum “Wish You Were Here”: um colega meu tinha-mo emprestado e eu estava a ouvi-lo e a falar com uma miúda ao telefone. Quando começaram os primeiros acordes de “Shine on You Crazy Diamond” disse-lhe que tinha de ir jantar e fiquei a ouvir aquela música maluca até ao fim. Foi uma experiência marcante. Foi a primeira vez… como são inesquecíveis todas as primeiras vezes!
A seguir a isso fiquei viciado. Depois de “Wish You Were Here” veio “The Dark Side of the Moon” e “The Wall”. Em pouco tempo tinha a discografia completa por ordem cronológica: de 1969 até 1983. Ainda me faltam os dois primeiros e os dois últimos.
Pink Floyd sempre foi, para mim, muito mais do que música e mais como filosofia. Várias vezes chegava a casa aborrecido ou zangado e ouvia Floyd. Ficava mais sereno e era ao seu som que eu encontrava as respostas para os meus problemas. Pode-se dizer que a sua música tinha em mim um efeito terapêutico.
Sempre vivi com uma grande angústia: Nunca iria ver Pink Floyd ao vivo. Em primeiro lugar, porque a idade deles – todos já têm pelo menos 60 anos – já não o deveria permitir e, em segundo lugar, porque uma zanga entre os membros da banda levou à sua dissolução em 1983. A banda regressou mas sem Roger Waters, o génio criativo por detrás dos principais sucessos dos Floyd na década de ’70. Foi como um trio que eles se apresentaram em Portugal, em 1994, esgotando o Estádio de Alvalade duas noites seguidas. Nunca mais ninguém conseguiu repetir esse feito…
Roger Waters também veio a Portugal. Em 2002 ele tocou duas noites no Pavilhão Atlântico. No entanto, eu tinha um teste de Filosofia na segunda-feira e não fui… Pensei que ia mesmo morrer sem concretizar o meu sonho!
Em Julho do ano passado acendeu-se uma réstia de esperança. Desafiados por Bob Geldof a tocar no LIVE 8, os 4 elementos dos Pink Floyd puseram as diferenças de parte e juntaram-se por um Mundo melhor. Nessa noite de sábado, liguei-me à televisão e vi aquilo que pensei nunca vir a ver: os Pink Floyd ao vivo! Claro que foi através da TV, claro que foi a milhares de quilómetros de distância mas eu estava a vê-los! Logo se criaram várias expectativas acerca do futuro: ir-se-iam juntar de novo? Mais uma digressão? Um último álbum?
David Gilmour – guitarrista e vocalista – desfez todos os meus sonhos quando disse, de forma algo peremptória, que os Pink Floyd não se iam juntar. Fiquei desiludido com isso… até que liguei a TV e vi a publicidade ao Rock in Rio 2006 e reparei no cabeça de cartaz para o dia 2 de Junho: Roger Waters!!!!!! Afinal, havia ainda a possibilidade de ouvir a música dos Floyd tocada pelo elemento proeminente!
Comprei logo o bilhete e fiquei 3 meses à espera. O dia chegou. Rui Veloso – fantástico – e Carlos Santana – soberbo – aqueceram o ambiente, mas quando Roger subiu ao palco as minhas pernas tremeram e comovi-me! Estava de frente para o homem que tinha feito toda aquela música linda, aquela música que eu sentia que tinha sido escrita exactamente para mim!
Fiquei sem palavras até… ele começar a tocar. Aí gritei a plenos pulmões com ele, liguei à minha namorada e cantei-lhe o “Wish You Were Here” – a minha música – ao vivo, e rendi-me perante a sua força em palco. Estava nas primeiras filas e juro que ele olhou para mim e que apontou o dedo para mim.
Durante aqueles breves instantes voltei a ter 14 anos e era como se estivesse a ouvir Floyd pela primeira vez: tudo me parecia fresco e genial. Nem me apercebi dos erros que alguns dos músicos que acompanham Waters cometeram, pois estava envolto na nuvem musical que se formava à minha frente. Durante as quase três horas que durou o concerto, quase que ignorei as outras 69 000 (não tenho bem a certeza dos números) pessoas, e fiquei só com ele, a cantar as músicas dele ao mesmo tempo que ele.
Claro que todo este depoimento parece excessivamente gráfico e demasiadamente lamurioso, mas foi exactamente assim que me senti assim que ouvi os primeiros acordes de “Happiest Days of our Lives”... e este foi, sem sombra de dúvidas, um dos dias mais felizes da minha vida!
Agradeço aos meus pais por terem custeado a viagem dos meus sonhos, ao Manel e ao Josué por terem partilhado comigo as aventuras do evento e, ainda, ao Roger Waters e aos restantes Floyd por serem os mais brilhantes músicos do meu Mundo.